Anjo de quem?

Anteontem, depois de jantar com o meu namorado, fui na farmácia porque precisava comprar sabonete, desodorante e anticoncepcional. Compras do mês, ainda que a pasta de dente e uma escova de dentes nova tenha ficado pra depois. Bom, cheguei no estabelecimento lutando contra mim mesma, fazendo malabares com uma garrafa de 600ml de Coca-Cola e um cachorro-quente 3/4 comido. Queria fazer a compra logo e voltar pra casa, a caminhada até o ginásio onde meu namorado dá aula de futsal mais o fim de tarde no café com duas amigas - regada a croquetes, cerveja e um churrasquinho de saideira - estavam começando a pesar um pouquinho demais nas minhas pernas. Tudo o que eu queria era, pelo menos, uma cadeira decente!

Depois que consegui parar de lutar contra mim mesma (e saí vitoriosa, pasme!) e dar fim aos malabares, fui até o balcão dos remédios e notei que os três farmacêuticos estavam ocupados. Ótimo [not], tudo o que eu tinha que fazer era esperar.

- Fulano, vem aqui! - gritou o atendente que estava ocupado.

Sem brincadeira, eu dei um pulo tamanho foi o susto. O cara estava na minha frente e consegui a proeza de me assustar com ele... Ou com a voz dele, não lembro. Enfim, veio o tal "Fulano". Vou fazer que nem nas revistas que publicam histórias cabeludas das leitoras e não vou dizer nem o nome do farmacêutico, nem a farmácia. Eis que para a minha surpresa, salta uma pulga de trás do balcão, uma pulga aparentemente feliz de trabalhar até tão tarde. Bom, eu até trabalharia período integral caso a grana fosse boa, mas isso não vem ao caso agora. Voltemos a pulga.

- Oi, meu anjo, o que era pra ti?

Demorei alguns bons segundos digerindo o que tinha acabado de ouvir. "Ah, deve ter escapado. Vou pegar as coisas pra poder ir pra casa de uma vez>", pensei. Dei um sorrisinho pro Fulano e tentei ser o mais afável possível e relevar o deslize do rapaz.

Comprei o anticoncepcional e estava quase encerrando o pedido quando lembrei dos outros dois itens. Que erro bem estúpido, deveria ter me contentado com as pílulas... A coisa degringolou e os três minutos seguintes que fiquei lá dentro fui perseguida pelo Fulano que, pelo que entendi, queria que eu levasse a farmácia na bolsa. Tudo bem que aminha bolsa é grande, mas não é pra exagerar.

Perseguida e chamada de "meu anjo" a cada 30 segundos. Olha, eu tenho paciência de jó com quem trabalha no comércio, mas o fulaninho resolveu que era dia de arriscar a sorte. Naquela altura do campeonato só faltava o sabonete (já que passei a mão no primeiro desodorante que estava ao alcance), e eu estava quase agarrando o mais caro com todas as minhas forças só para me livrar daquilo logo. Porém, minha paciência beirou o esgotamento quando ele decidiu mostrar os sabonetes em promoção, e que o pacote com sei-lá-quantos sabonetes era tanto e que valia bastante a pena levar.

Naquele instante, a minha vontade de enfiar todos os sabonetes - tanto em barra quanto líquidos - goela abaixo daquele cara era maior do que a vontade de ir pra casa. Me perguntei, quase em voz alta, por que diabos essa gente teima em ser inconveniente ao ouvirem um não? Puta que pariu.

Ao chegar no caixa, achei que aquela função toda tinha finalmente chegado ao fim. Doce ilusão. A mulher do caixa foi de uma grosseria fora de série (então me perguntei por que eu estava me esforçando pra não transparecer a irritação) e queria porque queria que eu trouxesse um envelope de paracetamol pra casa. E eu dizendo que não, que precisava do dinheiro do troco.

Pisei na calçada e me senti aliviada, estava finalmente livre E rumando ao lar. Foi então que escutei aquela voz familiar dizendo"Boa noite, meu bem". Por dentro, eu tive vontade de chutar o banco onde ele estava tentando se equilibrar. Por fora, saiu aquele sorriso amarelo-pus e passos bem largos pra bem longe dali.


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